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Paul Gauguin (1848-1903)

 

É uma espécie de fulguração para com a arte o que, no ano de 1883, o impele a transmudar-se de “pintor dos domingos” que era, na moldura dos impressionistas, em artista totalmente absorvido numa problemática toda sua, e disposto, por isto, a abandonar família, situação abastada e emprego seguro.

                            Areaarea

É profunda, nele, a desconfiança em relação à civilização ocidental; e toda a sua aventura, amarga e frequentemente desesperada, será a pesquisa, num mundo mais primitivo e selvagem, dos perdidos valores artísticos de candor, sinceridade e autenticidade.

Escolhe, lá pelo ano de 1885, a Bretanha a fim de praticar, nas paisagens, nas naturezas mortas, nos retratos, uma pintura simplificada, de mancha, com violentos destaques de cores puras, cada vez mais arbitrárias relativamente aos dados naturais, porque submetidas às exigências de harmonização da composição.

                           A Bela Angela

O encontro, na Bretanha, com Émile Bernard - um moço de senso crítico agudo, embora sendo pintor medíocre - solicitará de Gauguin um ulterior destaque do naturalismo.

                Visão após o sermão

O artista caminhará em direção àquelas formas mais sintéticas e compactas, dominadas pelas exigências compositivas, e em direção àquele cloisonismo (um estilo da pintura pós-impressionista caracterizado por cores lisas delimitadas por contornos escuros),  que o faz encastoá-las nitidamente dentro da bem marcada linha de contorno.

                        O Cristo Amarelo

O grupo de artistas que o circunda a chamada “escola de Pont-Aven” acompanha fervorosamente tais pesquisas. Nascem assim as caracterizações bretãs de  "A Bela Angela" (Paris, Museu dos Impressionistas); da "Visão após o Sermão" e sobretudo, do famoso "Cristo Amarelo" (Buffalo, Galeria Albright).

A persuasão de que a pintura deve ser não uma acolhida de sensações, e sim portadora de uma ideia, e de que, em função desta, deve a cor ser subordinada, fará com que, lá pelo ano de 1891, Gauguin se aproxime dos ambientes literários e artísticos parisienses, analogamente empenhados na afirmação do simbolismo. 

Mas daí não deriva, para ele, nem sucesso, nem satisfação.

A miragem de descobrir, longe da civilização, a sinceridade e a força dos primitivos, arrasta-o a uma primeira estada em Taiti; depois, em 1895, impele-o a abandonar definitivamente a França, primeiro outra vez para Taiti e a seguir para as remotas Ilhas Marquesas.

                De onde viemos, quem somos, para onde vamos?

Naquele mundo exótico, Gauguin não encontra os valores espirituais que sonhava encontrar; mas na sua solidão, realiza uma pintura que, na plenitude e arbitrariedade das cores relativamente aos dados naturalísticos, alcança nova monumentalidade, uma reconcentrada força plástica e excepcional potencia compositiva.

                        Mulher com flor, 1892

O convívio com os aborígenes permitiu ao pintor radicalizar a visão primitiva que já havia inaugurado na França. Lança o livro "Noa Noa", sobre o período em que viveu no Taiti.

                                                    Ta Matete

É o que podemos apreciar em "Ta Matete",  "Moças de Taiti na Praia", "De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos?", "Nevermore", "Taitiana com flores e manga", "A moça e a flor", entre outras obras.

                            Moças do Taiti na Praia. 1891

Em 1894 realiza uma mostra na Galeria de Paul Durand-Ruel. Entre as 44 pinturas expostas, apenas 11 foram vendidas.

                                            Nevermore


                                                Tatiana com flores e manga, 1891.


Paul Gauguin faleceu em Atuona, na Polinésia Francesa, no dia 8 de maio de 1903.


Curiosidade:

A obra "Quando te casarás?", em 2015, foi comprada por 300 milhões de dólares (263 milhões de euros), e converteu-se, na ocasião, na obra de arte mais cara da história. De acordo com o jornal norte-americano "New York Times", a Autoridade de Museus do Qatar  foi o comprador da obra que pertencia ao colecionador suíço, Rudolf Stechelin.

                                        Quando te casarás, 1892.


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