Exposição fotográfica - Arquivo Municipal de Lisboa - Rua da Palma, 246.
Fotografia: Valter Vinagre
Direção do Projeto: Nuno Aníbal Figueiredo
Ancorado numa relação com a história, Valter Vinagre apresenta um conjunto de fotografias de paisagem relativas a episódios da Guerra Peninsular (1807-1814), que opôs as tropas luso-britânicas às três invasões francesas do território nacional, desenvolvendo uma visão diversa do habitualmente comum em projetos dentro desta natureza temática.
Em vez de se centrar nos símbolos e nos monumentos históricos das invasões napoleónicas, o autor procede a um aturado mapeamento do território geográfico e humano, registando os locais significativos das batalhas travadas naquele período, referenciados nos títulos das obras que compõem a série.
Nela predominam sobretudo paisagens desprovidas de especial relevância, de onde estão ausentes monumentos escultóricos, memoriais, lápides ou inscrições oficiais.
Na maior parte das vezes não há sequer vestígios dos acontecimentos trágicos e dramáticos que ali tiveram lugar. São lugares esquecidos, vazios de significado, onde nada se encontra, nem mesmo a memória do passado.
Revelando uma sensibilidade mais atenta ao que se esconde do que ao que se mostra, Valter Vinagre concentra-se na relação do visível com a invisibilidade, na presença da ausência e na impermanência dos sinais
marcantes dos acontecimentos há séculos ocorridos nestes diferentes pontos do país.
Ele distancia-se das visões auráticas, mitificadoras, glorificadoras da representação histórica, procurando uma contra-imagem do passado que não procura protagonistas nem monumentaliza sequer a representação da paisagem.
O encontro com a memória colectiva surge, então, intimamente relacionado com a relação que o fotografo decidiu estabelecer com esse património: uma ligação com o passado centrada sobretudo na sua experiência pessoal e na captação destes espaços em data e hora próximas dos acontecimentos históricos de há dois séculos.
Um tal processo simbólico, que associa idealmente o presente ao passado, denota um fascínio não apenas pela transformação do espaço e trânsito do tempo, como pela nossa expectativa da apropriação dos seus sinais, reforçando um jogo de correspondências sempre surpreendentes entre o invisível e o imaginável, o temporário e o duradouro, os dados passados e as perspectivas presentes da paisagem geográfica e humana, assentes no princípio da tensão e complementaridade dos sentidos visuais e conceptuais.
Texto de Sandra Vieira Jurgen
VALTER VINAGRE
Nascido em Avelãs de Caminho (Anadia, Portugal) em 1954, Valter Vinagre estudou fotografia no AR.CO - Centro de Arte e Comunicação Visual em Lisboa (1986–1989) e iniciou o seu percurso em finais dos anos 1980, realizando exposições individuais e participando em mostras e iniciativas de cariz coletivo.
Segunda a Sexta-feira, das 10:00 às 18h