Avançar para o conteúdo principal

Fernando Pessoa por Almada Negreiros

 “Retrato de Fernando Pessoa” é o título de duas pinturas de Almada Negreiros, onde este retrata o poeta Fernando Pessoa, o membro mais notável da Geração d’Orpheu, a que Almada também está associado.



A primeira versão destas obras foi executada em 1954 para o restaurante Irmãos Unidos, antigo ponto de encontro do grupo Orpheu; trata-se da "versão final de uma encomenda cujo projeto primitivo se intitulava Lendo Orpheu. A segunda versão, de 1964, foi encomendada pela Fundação Calouste Gulbenkian".


Já anteriormente Almada retratara Fernando Pessoa: em 1913 expôs um retrato do poeta na II Exposição dos Humoristas e, em 1935, por ocasião da morte de Pessoa, publicou outro no Diário de Lisboa.


Trata-se de um dos grandes retratos da pintura portuguesa, e uma das obras mais significativas de Almada, ligado assim à sua geração de 15, numa iconografia que ninguém como ele teria o direito de propor. 


Pessoa é figurado […] sentado no Martinho da Arcada que frequentava, o nº 2 de Orpheu sobre a mesa: um homem frágil, de olhar míope, como ausente, dobrado a escrever, os pés cruzados, tal e qual uma figura de arlequim que Almada desenhara em 22. É uma pintura sem sensualidade e uma imagem sem sentimentalismo, traduzindo uma visão em profundidade, introspetiva, mas discretamente detida numa superficialidade aparente; o próprio movimento da figura é subitamente retido, numa atenta tensão".


Em 1970, ano da sua morte, Almada Negreiros assistiu ao leilão de “Retrato de Fernando Pessoa”, 1954; (o primeiro). O valor da venda, 1300 contos, invulgarmente alto para a época, confirmou a reputação do pintor na fase final da sua vida. 


O valor foi pago pelo banqueiro Jorge de Brito, coleccionador e  empresario conhecido pelos seus arriscados empreendimentos. 

Jorge de Brito doou o quadro ao Museu da Cidade de Lisboa e esse é o que podemos apreciar na Fundação Casa Fernando Pessoa, em Campo de Ourique. 



Fonte do texto: História da Arte em Portugal, “O Modernismo”, J.A. França.

Mensagens populares deste blogue

Caspar Friedrich e o romantismo alemão

Caspar David Friedrich, 1774-1840 Em 1817 o poeta sueco Per Daniel Atterbon visitou o pintor alemão Caspar David Friedrich, em Dresden. Passados trinta anos, escreveu as suas impressões sobre o artista. “Com uma lentidão meticulosa, aquela estranha figura colocava as suas pinceladas uma a uma sobre a tela, como se fosse um místico com seu pincel”.                                                  O viajante sobre o mar de névoa, 1818. As figuras místicas e os génios brilhantes foram os heróis do Romantismo. Jovens com expressões de entusiasmo ou com os olhos sonhadores, artistas que morriam ainda jovens na consciência melancólica do seu isolamento social povoavam as galerias de retratos por volta de 1800.                                                            A Cruz na montanha, 1807. Friedrich afirmava frequentemente que um pintor que não tivesse um mundo interior não deveria pintar. Do mundo exterior vê-se apenas um pequeno extrato, todo o resto é fruto da imaginação do artista,

Fernando Botero, estilo e técnicas.

  As criações artísticas de Botero estão impregnadas de uma interpretação “sui generis” e irreverente do estilo figurativo, conhecido por alguns como "boterismo", que impregna as obras iconográficas com uma identidade inconfundível, reconhecida não só por críticos especializados mas também pelo público em geral, incluindo crianças e adultos, constituindo uma das principais manifestações da arte contemporânea a nível global. A interpretação original dada pelo artista a um espectro variado de temas é caracterizada desde o plástico por uma volumetria exaltada que impregna as criações com um carácter tridimensional, bem como força, exuberância e sensualidade, juntamente com uma concepção anatómica particular, uma estética que cronologicamente poderia ser enquadrada nos anos 40 no Ocidente. Seus temas podem ser actuais ou passados , locais mas com uma vocação universal (mitologia grega e romana; amor, costumes, vida quotidiana, natureza, paisagens, morte, violência, mulheres, se

José Malhoa (1855-1933), alma portuguesa.

Considerado por muitos como o mais português dos pintores, Mestre Malhoa retrata nos seus quadros o país rural e real, costumes e tradições das gentes simples do povo, tal qual ele as via e sentia. Registou, nas suas telas, valores etnográficos da realidade portuguesa de meados do séc. XIX e princípios do séc. XX, valendo-lhe o epíteto de ‘historiador da vida rústica de Portugal’. Nascido a 28 de Abril de 1855, nas Caldas da Rainha, José Victal Branco Malhoa é oriundo de uma família de agricultores. Cedo evidenciou qualidades artísticas. Gaiato, traquina, brincalhão, passava os dias a rabiscar as paredes da travessa onde vivia. Aos doze anos, o irmão inscreve-o na Academia Real de Belas-Artes. No fim do primeiro ano, a informação do professor de ornato e figura indicava “pouca aplicação, pouco aproveitamento e comportamento péssimo”. Porém, ele depressa revela aptidões que lhe dariam melhores classificações. Passava as tardes a desenhar os arredores de Lisboa, sobretudo a Tapada