Teresa Cortez fez a sua formação académica na Escola de Artes Decorativas António Arroio e desde 1975, a sua aprendizagem prática na arte cerâmica em ambiente fabril (Fábrica Viúva Lamego) junto do Mestre Querubim Lapa.
A partir dos anos 90, começou a trabalhar em atelier próprio onde, sem nunca abandonar a cerâmica, pôde igualmente dirigir a sua criatividade para o desenho e aguarela.
A sua obra dá-se a conhecer, encontra-se no alvor da arte contemporânea portuguesa, nas já então agitadas tertúlias culturais dos anos 60/70 e prossegue com o romper da aurora no vértice de Abril de 74.
Até aos dias que nos acompanham a autora não cessa a sua criação artística. Esta exposição revela-nos uma leitura englobante da sua produção artística como uma retrospetiva que abarca um arco do seu tempo, 45 anos. Podemos afirmar que o seu acervo artístico partilha conosco traços marcantes deste período.
A exposição “Um Mundo Lúdico à Espreita”, (Museu Oriente, Lisboa – até 12/9/21) compartilha um espaço de liberdade criativa que reflete, em diferenciados temas e objetos, a vizinhança com a cultura popular, das estórias da cultura oral, das narrativas da fábula, dos contos visuais encantatórios, da magia de recriar o nosso imaginário que não se perde desde que nascemos como um pião que rola, e não cessa de girar, nesta brincadeira que nasce com arte e com a vontade constante em moldar os nossos sentidos numa festa multicultural, a Oriente e a Ocidente, mais colorida. ( palavras de Rui A. Pereira, curador da exposição)
Azulejos que abrem o horizonte
O traçar de Teresa Cortez assinala, em evidência, o seu uso como forma de expressão. Joga com o claro e o escuro, as camadas sobrepostas e justapostas que se determinam e elevam, em cada obra, na sua totalidade, revelando cor.
Tal como a oriente a sua base pictural vive da essência da matéria, com a tinta no papel, na tela, ou na cerâmica, a discorrer do seu pensamento. Com tinta espessa ou mais aguada a autora figura delineando, tingindo a diversidade da cor, da tonalidade, fazendo sobressair cada nuance, cada cor.
Cerámica com história
A artista conta histórias, narrativas, apresentadas por pinceladas que se soltam, como se nos estivesse a contar, em cada trabalho, a sua história.
No espaço terreno entre o céu e a terra define a natureza, com lugares reais e/ou fantasiados com pessoas, animais, contos de fadas, lendas e muitos pássaros, gatos, peixes, borboletas e libélulas a “desaguar” por aqui.
Tudo é pretexto para o contentamento. Com ritmo, com movimento, com o som desenhado, tudo é razão para assinalar o toque que amanhece, ao som de uma corneta que irradia o estrelato. “Os sons produzidos” pronunciam Amor. Aqui até um gato e um rato são dois fortes cúmplices, em amizade.
Obra Pública
O mural em azulejo. Para ela é, indiscutivelmente, uma forma singular de expressão, uma forma que se diferencia, inclusive, no próprio processo de execução, que consideramos de constante criatividade: peça por peça, azulejo por azulejo, a criação acontece sempre marcada pela diferença, num processo realmente avesso a qualquer normalização ou reprodução simples, em conclusão, nenhuma das peças fabricadas é exactamente igual.
O azulejo submete-se a todo um processo de produção artístico que está associado, inevitavelmente, à multiplicidade das suas variáveis: umas, mais dependentes do autor (o traço, o moldar, os valores cromátoicos pintados e os tempos de cozedura), outras, mais dificilmente controláveis (reacções dos materiais aos diferentes valores de temperatura; reacções dos materiais entre si – uns misturam-se, outros justapõem-se, outros ficam mais vidrados e outros ainda ficam mais ou menos foscos). Esta é uma obra extensa e por demais significativa no contexto da cerâmica e da arte pública nacional.
A exposição de cerâmica "Teresa Cortez: Um Mundo Lúdico à Espreita" é uma oportunidade de apreender, em retrospectiva, os últimos 45 anos da obra de Teresa Cortez, uma das ceramistas portuguesas vivas com mais obras integradas em projectos de arquitectura. A exposição, patente no Museu do Oriente até 12 de Setembro, deixa-nos espreitar o seu mundo criativo mais vasto, os seus múltiplos objectos escultóricos de cerâmica, nascidos de fábulas.
Rostos Femininos
Fonte do texto: Website da artista e do Museu Oriente.
Fotos: Ana Regina Castro-Corrales