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Rembrandt, o génio da arte holandesa

Rembrandt (1606-1669), como Hals, foi estimulado no inicio de sua carreira pelo contacto indireto com Caravaggio e suas primeiras pinturas são pequenas, fortemente iluminadas e de um realismo intenso, a partir das quais desenvolveu, na década de 1630, o estilo maduro do Alto Barroco. 

            Ronda Noturna, 1642 

Por volta de 1636, quando pintou “O cegamento de Sansão”, Rembrandt era um ávido coleccionador de adereços do Oriente Próximo, os quais reproduzia em suas pinturas. Era na ocasião, o artista mais requisitado de Amsterdã, além de um homem de considerável riqueza. 


Essa prosperidade chegou ao fim na década de 1640, embora a rejeição do artista por parte do público tenha sido menos súbita e catastrófica do que seus admiradores románticos gostariam que acreditássemos. Além do mais, naquela década foi um período de crise, de incerteza interior e de problemas externos.

                   O Velho, 1645 -   Museu Calouste Gulbenkian de Lisboa- Foto:Ana Castro

As concepções de Rembrandt passaram por uma profunda mudança: logo após 1650 seu estilo evita deliberadamente a retórica do Alto Barroco, substituindo-a por um lirismo sutil e uma maior amplitude de efeitos pictóricos, o que  percebemos em um autorretrato de 1660.

         Autorretrato,1660 -  Em exibição no  Museu Metr. de New York - Foto: Ana Castro

Embora parcialmente em dívida para com os suntuosos retratos de Ticiano, Rembrandt faz um profundo exame de si próprio, com a mesma franqueza característica dos pintores setentrionais, como Jan van Eyck, “Homem com turbante vermelho”.

Em seus últimos anos Rembrandt frequentemente adaptou, de um modo muito pessoal, concepções pictóricas do Renascimento, como em seu quadro   “O cavaleiro polonés”, onde o olhar sério e atento do personagem sugere a existencia de ameaças invisíveis.

       O Cavaleiro polonés - The Frick Collection em New York 

Nas obras de sua última fase, as cenas religiosas tem papel importante. É a magia da luz de Rembrandt que dá aos seus quadros significado espiritual.

       Os síndicos do gremio de  "drapers" de Amsterdam.


        A noiva judia

            Lição de Anatomia do Dr. Tulp, 1632, 

Por volta da metade do século XVII, as técnicas da xilogravura e da gravura a buril eram basicamente utilizadas para reproduzir outras obras. Os gravadores criativos, inclusive Rembrandt, preferiam a água-forte. Para trabalhar com essa técnica é necessário recobrir uma placa de cobre com resina,   para criar um “fundo” resistente ao ácido, sobre o qual o desenho é feito com um estilete, deixando exposta a superfície metálica abaixo.


A principal virtude da água-forte é a sua ampla escala tonal, inclusive as sombras profundas e aveludadas que não são possíveis de obter nas gravuras ou xilogravuras. Nenhum gravador a água-forte explorou essas possibilidades com mais sutileza que Rembrandt.  



Video: Rembrandt - Uma coleção de 546 trabalhos - Vale a pena apreciar. 



Filme completo: A vida de Rembrandt




Fonte do texto: Iniciação a Historia da Arte, H.W.Janson e Anthony F. Janson, 1996 

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