Sabe-se muito pouco a respeito da vida de Vermeer. Há uma tradição que diz que Johannes Vermeer (ou Jan Vermeer) foi batizado em Delft a 31 de Outubro de 1632, sendo o segundo filho e o único varão de Reynier Jansz.
Sabe-se a partir de um documento datado de 1640 que Reynier tinha relações com artistas como Balthasar van der Ast (já famoso no seu tempo pelas suas pinturas de flores), Pieter Steenwyck e Pieter Groenewegen. Pode ter sido isso a dar ao jovem Vermeer as suas primeiras inclinações artísticas.
Nada se sabe sobre a sua formação como pintor. Uma das suposições é a de que tenha. estudado com Carel Fabritius, que se formara na oficina de Amsterdão de Rembrandt.
Vermeer casou-se com Catharina Bolnes a 20 de abril de 1653, em Schipluy, uma pequena localidade perto de Delft. Era filha de Maria Thins, a qual, inicialmente, se opôs ao matrimonio. É possível que fosse pela situação financeira do pai de Vermeer, quem estava cheio de dívidas.
A princípio o jovem casal viveu em uma estalagem, mas depois mudou-se para a casa da sogra de Vermeer, em Oude, conhecido por o Bairro dos Papistas, próximo da missão jesuíta. Catharina teve 15 partos, sendo que 4 de seus filhos morreram muito cedo. As relações do pintor com sua sogra haviam melhorado muito e ela, que havia se separado de seu marido, recebera uma boa herança de sua irmã.
Vermeer pintava em média tres a quatro quadros por ano e, somente para clientes que apreciavam seu trabalho, o que justifica o reduzido número de obras que pintou. Como seu pai, ele trabalhou como negociante de arte e terá ganho muito mais dinheiro vendendo quadros dos outros do que os seus.
A Redescoberta de Vermeer
Apesar do que se tem afirmado, Johannes Vermeer nunca foi completamente esquecido. Ele foi referido elogiosamente nos séculos XVII e XVIII e comparado com outros artistas contemporáneos, porém, a sua ressonancia foi fraca. Só a partir de meados do século XIX a sua arte desfrutou de uma recepção entusiástica crescente.
Nas suas viagens por Inglaterra, Bélgica, Holanda e Suiça, Burger-Thoré debruçou-se intensamente sobre a pintura holandesa do século XVII e o seu cotidiano realista. Ele descobriu que esta correspondia às ideias estéticas expressas nas teorias de Jules Champfleury (1821-1889) e Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865) e na arte da escola de Barbizon e Gustave Coubert (1819-1877).
Uma exigencia essencial dos realistas franceses era a de que o tema político, cultural e social da atualidade devia determinar o conteúdo da obra e isso também estava claríssimo na obra de Vermeer.
Sabemos hoje que, na maioria dos seus quadros, Vermeer usou uma cámara escura de uma forma que não denuncia a utilização deste instrumento; este é detectado apenas pelos contornos desfocados e os pontos de luz, o famoso pointillé .
O Astrónomo, 1669.Isto confere aos seus quadros uma qualidade subjetiva pois não pretendem reproduzir a realidade como ela é, mas mostrar como é vista.
Em termos do método de trabalho de Vermeer, podemos dizer que ele usa um meio de reprodução para conseguir a percepção. Foi essa tendencia oculta para a abstração em seus quadros que fez aumentar a sua fama no último terço do século XIX.
Hoje, a par de Rembrandt e Frans Hals, Vermeer é considerado um dos tres maiores representantes da idade de ouro da pintura holandesa.
Aqueles que redescobriram Vermeer a partir do século XIX reconheceram que ele tinha sido um inovador na composição técnica. A sua preferencia pelo equilíbrio, o seu método de reduzir estruturas complexas a elementos simples (em que a geometria desempenha um papel muito importante na composição), a sua forma de tratar a luz, que alcançou quase efeitos plein-air, e as sombras que não são em gradações de cinzento, mas surgem com brilhos de cor, toda a sua forma de tratar a cor, substancialmente diferente da aplicação de superfícies lisas, como porcelana, então muito em voga na Holanda, tudo isso caracteriza uma qualidade estética extraordinária já no seu tempo.
Se porém descrevêssemos a sua obra apenas nestes termos, correríamos o risco de esquecer quão representativa a sua arte é. Os seus temas não são de modo algum, de importância secundária. Uma característica essencial é a forte individualização das figuras, que surgem sozinhas, ou quase, muitas vezes nas suas tarefas cotidianas.
O Geógrafo, 1668.
Não há a tensão ou a agitação característica da pintura de género holandesa deste período. As expressões faciais das personagens de Vermeer não estão distorcidas por paixões. As suas figuras, na maioria mulheres, surgem quase libertas de afectos, não no sentido de ausencia de sentimentos ou de falta de sensibilidade, mas no sentido de uma ocultação de emoções, que não devem ser mostradas ao observador.
A maior parte dos quadros de Vermeer tem como tema os deveres domésticos, mas também surgem os confitos provocados nas mulheres pelos imperativos do dever e da virtude, aos quais se opõem os desejos libidinosos que não eram permitidos expressar abertamente.
Indiscutivelmente, as figuras de Vermeer, ao rejeitarem as normas e exigencias da sociedade, tinham-se visto forçadas ao isolamento, e, modestamente, haviam-se retirado – para o silencio.
Vermeer foi enterrado a 15 de dezembro de 1675 na sepultura familiar de Oude Kerk (Igreja Velha) em Delft. Deixou 11 filhos, oito dos quais ainda viviam em casa. Catharina Bolnes viu-se então em grandes dificuldades para satisfazer aos credores, sentindo por isso necessidade de apelar ao Supremo Tribunal, em Haia, para que tomasse à cargo a administração de suas propriedades. Ela, então, renunciou a todos os seus direitos sucessórios, cedendo-os aos credores.
Fonte do texto: Vermeer, A Obra completa, Norbert Schneider, 1997