Sandro Botticelli foi o pintor principal de Florença na segunda metade do século XV. O seu estilo requintado e feminino desligava-se das correntes dominantes da arte florentina, mas agradou aos intelectuais da Florença daqueles tempos turvos.
Pouco se conhece dos inícios da sua vida. Temperamentalmente, parece ter sido muito emotivo e inclinado 'a preguiça e ao gracejo. O seu principal mecenas foi a dinastia Médici para a qual produziu retábulos, retratos, alegorias e estandartes. As suas obras primas foram as grande pinturas mitológicas, que fomentaram um tipo esecial de beleza divinamente inspirada, em combinação com complexas referencias literárias.
Após a sua morte, a obra de Botticelli mergulhou na obscuridade, mas a sua reputação reavivou-se no século XIX quando artistas em busca de experiencias estéticas foram inspirados pelo seu retrato de uma existencia onírica e irreal.
Primavera - c. 1480, 203 x 314 cm, Tempera sobre madeira, Galeria Uffizi, Florença.
A “Primavera” mostra o jardim de Venus, a deusa do amor. A pintura terá provavelmente sido encomendada por Lorenzo de Perfrancesco de Médici (1463-1503) para figurar em uma sala adjacente 'a camara nupcial de sua casa em Florença.
Venus preside 'a cena com a mão direita erguida como numa benção. É significativo o fato de usar o toucado característico de uma florentina casada – uma alusão ao tema nupcial da pintura.
Botticelli gostava de praticar um jogo apreciado por muitos artistas do início do Renascimento – o de fazer inteligentes alusões por meio de jogos de palavras e imagens. Assim, as chamas no vestuário de Venus e Mercúrio podem constituir uma referencia a São Lourenço, que foi queimado; os frutos redondos e dourados lembram os anéis dourados do brasão da família Medici e o caduceu que Mercurio empunha é o símbolo dos médicos, que é o que significa a palavra Medici.
Botticelli aperfeiçoou um estilo em que a linha sinuosa ocupava lugar proeminente. As mãos entrelaçadas, as pregas intrincadas das roupagens e os cabelos flutuantes das Tres Graças são prova da sua total maestria. Os rostos alongados, os altos pescoços, os ombros descaídos, os ventres curvos e a delicadeza dos tornozelos encarnam o ideal da beleza feminina na Florença renascentista.
Mercúrio, o mensageiro dos Deuses, é mostrado usando as botas aladas. Era filho da ninfa Maia – que deu nome ao mês de Maio – o mês que Lorenzo de Medici casou com Semiramide dÃppiano em 1482. Mercurio utiliza o seu caduceu – vara enlaçada por serpentes – para afastar as nuvens, a fim de que nada possa lançar sombras sobre a eterna primavera do Jardim de Venus.
Flora, Deusa das flores é a principal figura que equilibra o lado direito da composição. Atravessa na ponta dos pés o prado florido, a encarnação da beleza. Nela se personifica nova referencia ao júbilo do casamento e a Florença, a “Cidade das Flores”.
O vestido de Flora está apropriadamente decorado com flores ligeiramente salientes para imitar bordado. Botticelli sentia-se fascinado pela decoração e pelos padrões estilizados. Outros exemplos nesta obra: a “auréola” de folhagem que se destaca contra o céu em redor de Venus, o tapete de flores e o desenho formado pelo anel dourado de frutos e de folhas de um verde rico.
O barrigudo e malicioso Cupido, deus do amor, contrasta com as solenes e esbeltas figuras embaixo. Está caracteristicamente vendado (o amor é cego) e perto de Venus, sua mãe. Aponta a uma das Tres Graças uma seta a arder com as chamas do amor – por maldade, ou como um cumprimento sutil 'a noiva de Medici?
O verdadeiro nome de Botticelli era Alessandro di Mariano Filipepi. Recebeu, como seus irmãos, a alcunha de Botticelli, que em italiano significa “pequeno barril”, em virtude de que o irmão mais velho, era um comerciante abastado, negociando mercadorias em barris. Quase com certeza, a alcunha aludia mais 'a sua riqueza do que a sua estatura.