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Kandinsky: Na arte não há "deve ser", arte é liberdade



Wassily Kandinsky foi um dos primeiros a criar uma arte verdadeiramente abstrata em que cor e forma assumiam vida própria.

Nascido em Moscovo, de família rica, a sua educação começou pelo estudo das leis. Aos 30 anos estudou arte em Munique. Embora natural, reservado e minucioso, revelou-se um grande organizador.

Em 1911 fundou o grupo do Cavaleiro Azul com pintores de vanguarda. Após a eclosão da I Guerra Mundial, regressou 'a Rússia a fim de tentar organizar s vida artística em novos moldes, mas nada conseguiu e voltou 'a Alemanha, onde se tornou um inspirado mestre da Escola Bauhaus.

Quando os nazis encerraram a Bauhaus, mudou-se para a França e ali continuou a desenvolver o seu estilo de pintura abstrata altamente pessoal e escritos teóricos onde formulava um pensamento conceptual sofisticado.

A ligação entre arte e música constituíram a sua primeira preocupação, pois possuía um ouvido invulgarmente sensível aos sons e era literalmente capaz de “ouvir” cores – uma qualidade conhecida pelo nome de “sinestesia”.

Atribui-se a Kandinsky a criação da primeira pintura abstrata, mas o interesse por uma arte nova, independente da representação natural (mas com o poder de fazer vibrar a alma de modo identico 'a música) foi compartilhado por outros artistas notáveis como Delaunay (1885-1941), na França; Malevich (1878-1935), na Russia; e Mondrian (1872-1944), na Holanda.


Em termos de ambição e finalidade séria, a arte abstrata passou a desempenhar o papel que até então desempenhava a pintura histórica.

Kandinsky, interessava-se pela teosofia, que propõe a existencia de verdades fundamentais inerentes a todas as religiões do mundo. Os seus primeiros trabalhos eram figurativos e inspirados na arte popular, e as primeiras obras abstratas foram pintadas com largueza e encontravam-se exclusivamente na cor.

Vejamos a Composição #8, 1923, óleo sobre tela 140 x 201 cm - Museu Guggenheim, New York.



Pintada no auge da sua carreira, essa obra era considerada pelo artista, o mais importante dos seus trabalhos – uma expressão feliz das suas teorias sobre as propriedades emocionais da forma, da linha e da cor. Quando a completou ensinava em Bauhaus e trabalhava no seu libro Ponto e Linha para Planear, que foi publicado em 1926.

Uma das questões relacionadas com os pintores abstratos era se a eliminação de qualquer tema reconhecível deixaria simplesmente sem profundidade espiritual um arranjo de cor e forma meramente decorativo. Kandinsky provou que não era assim e que a arte abstrata podia atingir o objetivo de toda boa arte desde o Renascimento: elevar e comover a alma humana.


A cor é o teclado, os olhos são os martelos, a alma é o piano com muitas cordas, o artista é a mão que toca, e fere uma nota ou outra para provocar a vibração na alma”

De acordo com Kandinsky as linhas horizontais nos soam como “frias e finas”, enquanto as verticais são percebidas como quentes e altas”. Os ângulos agudos são quentes, cortantes, ativos e amarelos” e os ângulos retos frios, controlados e vermelhos”.

No seu apaixonado e (algo confuso) livro Sobre o Espiritual na Arte (1912) ele sublinha os efeitos psicológicos das cores puras, segundo os quais, por exemplo, um vermelho vivo pode produzir o mesmo efeito que uma chamada de esclarecimento.



A sua convicção de que era possível e necessário alcançar uma comunhão entre espíritos através desta forma, encorajou-o a apresentar as suas três primeiras tentativas de música cromática, que foram as que realmente iniciaram o que é conhecido hoje como arte abstracta.



Kandinsky, o Criador:





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