Avançar para o conteúdo principal

Caravaggio, "Baco", 1595.

 

CARAVAGGIO (1573-1610)

Um dos poucos grandes artistas com registro criminal, Caravaggio era violento, grosseiro e esteve frequentemente detido na cadeia. Todavia, apesar de pouco recomendável foi autor de um dos estilos mais inovadores e influentes do século XVII. Michelangelo Merisi tomou o nome do lugar onde nasceu, Caravaggio, perto de Bérgamo, no norte da Itália. Aos 17 anos, já só no mundo, partiu com uma pequena herança para fazer carreira em Roma. Porém, o dinheiro depressa foi gasto, e ele viveu na miséria até se ligar ao pessoal do Cardeal Del Monte. Ali, graças aos seus prodigiosos talentos e 'a sua fogosa personalidade, praticou uma arte de dramático realismo e iluminação teatral, que era completamete nova – excitante para uns, mas profundamente ofensiva para outros. Em 1606, no auge dos seus exitos, assassinou um amigo no decurso de uma rixa por causa de uma insignificante aposta. Fugiu para Nápoles e morreu no exílio com apenas 37 anos.

Detalhe:



BACO (1595), Óleo sobre tela 94 x 85 cm, Galeria Uffizi, Florença.

Esta imagem é uma represenção original e abertamente homoerótica de Baco, o Deus do Vinho. Foi provavelmente executada enquanto Caravaggio trabalhava para o influente cardeal del Monte – notável mecenas das artes que encomentou ao artista diversas pinturas de jovens afeminados.

O jovem Deus do Vinho dedica-se notoriamente a uma vida de sensualidade física (tal como o próoprio artista) e exibe uma expressão deliberadamente libertina. Não há provas de que o artista compartilhasse dos gostos sexuais de seu patrono, mas correspondeu com entusiasmo 'as possibilidades pagãs e decadentes da imagem.

Muito do que o pintor melhor realizou joga sempre com os contrastes. Os pormenores realistas contrastam com uma atitude teatral. Existe contraste entre o musculoso braço direito do modelo e o seu rosto feminino com sobrancelhas desenhadas e negra cabeleira encaracolada.

Baco empunha uma taça cheia de vinho como que a convidar-nos a juntar-nos a ele nos prazeres da carne. Tem as unhas sujas – simbólico aviso de que a busca do prazer tem seu preço.


O pormenor da natureza-morta pode constituir uma alegoria das consequencias do excesso de indulgencia e da brevidade da inocencia juvenil. Há na maçã um buraco feito pelo bicho, a romã está demasiado madura e a outra ftuta apresenta-se pisada e apodrecida.

Caravaggio foi um pioneiro da pintura de naturezas-mortas, que começou a surgir no Renascimento como um género por direito próprio. O motivo da cesta de frutas aparece em mutas das suas obras.

No início do século XVII, Roma era visita obrigatória para jovens artistas ambiciosos, que iam para lá estudar as obras dos grandes mestres, como Miguel Angelo e Rafael. Todavia, foi a luz nova e dramática e o obsessivo realismo da arte de Caravaggio que surpreenderam a imaginação de muitos pintores que, ao regressarem 'as suas terras, divulgaram o seu estilo. Entre os seus discípulos contam-se artistas como Gentileschi na Itália, Velazquez em Espanha e sobretudo Rembrandt, em Holanda.






Mensagens populares deste blogue

Caspar Friedrich e o romantismo alemão

Caspar David Friedrich, 1774-1840 Em 1817 o poeta sueco Per Daniel Atterbon visitou o pintor alemão Caspar David Friedrich, em Dresden. Passados trinta anos, escreveu as suas impressões sobre o artista. “Com uma lentidão meticulosa, aquela estranha figura colocava as suas pinceladas uma a uma sobre a tela, como se fosse um místico com seu pincel”.                                                  O viajante sobre o mar de névoa, 1818. As figuras místicas e os génios brilhantes foram os heróis do Romantismo. Jovens com expressões de entusiasmo ou com os olhos sonhadores, artistas que morriam ainda jovens na consciência melancólica do seu isolamento social povoavam as galerias de retratos por volta de 1800.                                                            A Cruz na montanha, 1807. Friedrich afirmava frequentemente que um pintor que não tivesse um mundo interior não deveria pintar. Do mundo exterior vê-se apenas um pequeno extrato, todo o resto é fruto da imaginação do artista,

Fernando Botero, estilo e técnicas.

  As criações artísticas de Botero estão impregnadas de uma interpretação “sui generis” e irreverente do estilo figurativo, conhecido por alguns como "boterismo", que impregna as obras iconográficas com uma identidade inconfundível, reconhecida não só por críticos especializados mas também pelo público em geral, incluindo crianças e adultos, constituindo uma das principais manifestações da arte contemporânea a nível global. A interpretação original dada pelo artista a um espectro variado de temas é caracterizada desde o plástico por uma volumetria exaltada que impregna as criações com um carácter tridimensional, bem como força, exuberância e sensualidade, juntamente com uma concepção anatómica particular, uma estética que cronologicamente poderia ser enquadrada nos anos 40 no Ocidente. Seus temas podem ser actuais ou passados , locais mas com uma vocação universal (mitologia grega e romana; amor, costumes, vida quotidiana, natureza, paisagens, morte, violência, mulheres, se

José Malhoa (1855-1933), alma portuguesa.

Considerado por muitos como o mais português dos pintores, Mestre Malhoa retrata nos seus quadros o país rural e real, costumes e tradições das gentes simples do povo, tal qual ele as via e sentia. Registou, nas suas telas, valores etnográficos da realidade portuguesa de meados do séc. XIX e princípios do séc. XX, valendo-lhe o epíteto de ‘historiador da vida rústica de Portugal’. Nascido a 28 de Abril de 1855, nas Caldas da Rainha, José Victal Branco Malhoa é oriundo de uma família de agricultores. Cedo evidenciou qualidades artísticas. Gaiato, traquina, brincalhão, passava os dias a rabiscar as paredes da travessa onde vivia. Aos doze anos, o irmão inscreve-o na Academia Real de Belas-Artes. No fim do primeiro ano, a informação do professor de ornato e figura indicava “pouca aplicação, pouco aproveitamento e comportamento péssimo”. Porém, ele depressa revela aptidões que lhe dariam melhores classificações. Passava as tardes a desenhar os arredores de Lisboa, sobretudo a Tapada