Salão onde foi recebido D. João VI ao retornar do Brasil (1821)
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O
Real Paço de Nossa Senhora da Ajuda foi mandado erguer por D. José
I (1714-1777) no alto da colina da Ajuda. Este edifício, construído
em madeira para melhor resistir a abalos sísmicos, ficou conhecido
por Paço de Madeira ou Real Barraca. Substituía o sumptuoso Paço
da Ribeira que fora destruído no terramoto que arrasou Lisboa em
Novembro de 1755.
Construção
do Real Paço da Ajuda
A
urgência da construção de um novo Palácio e o facto da Família
Real ter sobrevivido ao cataclismo por se encontrar na zona de baixa
sismicidade de Belém/Ajuda, justificou a escolha do local. O novo
Paço, habitável desde 1761, veio a ser a residência da Corte
durante cerca de três décadas. Em 1794, no reinado de D. Maria I
(1734-1816), um incêndio destruiu por completo esta habitação real
e grande parte do seu valioso recheio.
Coube a Manuel Caetano de
Sousa, Arquitecto das Obras Públicas, a tarefa de projectar um novo
palácio de pedra e cal, que foi traçado ainda de acordo com as
tendências arquitectónicas do Barroco. Este projecto, iniciado em
1796 sob a regência do príncipe real D. João, foi suspenso
decorridos cinco anos de construção, quando, em 1802, Francisco
Xavier Fabri e José da Costa e Silva, arquitectos formados em
Itália, foram encarregues de o adaptar à nova corrente neoclássica.
Esta tarefa, continuada mais tarde por António Francisco Rosa,
responsável pelo traçado de “redução” do projecto, nunca veio
a ser concretizada integralmente.
Partida
da Corte para o Brasil em 1807
Factores
de natureza diversa foram imprimindo um ritmo descontinuado ao
decorrer da obra do edifício, nomeadamente a partida da Corte para o
Brasil, em 1807, na sequência das invasões napoleónicas, e a falta
periódica de recursos financeiros. Nela trabalhavam os melhores
artistas do reino: Domingos Sequeira, Arcângelo Foschini, Cirilo
Wolkmar Machado, Joaquim Machado de Castro e João José de Aguiar,
dedicados essencialmente às decorações pictóricas e escultóricas.
Quando, em 1821, a Corte regressou do Brasil, o Palácio permanecia inacabado, sendo nele realizadas apenas cerimónias protocolares. Em 1826, após a morte de D. João VI (1767-1826), estando as alas nascente e sul já habitáveis, a infanta regente D. Isabel Maria (1801-1876) e duas das suas irmãs escolheram-no para sua residência.
Quando, em 1821, a Corte regressou do Brasil, o Palácio permanecia inacabado, sendo nele realizadas apenas cerimónias protocolares. Em 1826, após a morte de D. João VI (1767-1826), estando as alas nascente e sul já habitáveis, a infanta regente D. Isabel Maria (1801-1876) e duas das suas irmãs escolheram-no para sua residência.
D.Miguel
viveu no Real Paço da Ajuda
Dois anos depois, o rei D. Miguel
(1802-1866) também elegeu a Ajuda para morar e muito impulsionou a
prossecução das obras. Para permitir a continuidade dos trabalhos,
ao fim de seis meses o rei mudou-se para o Palácio das Necessidades
e nunca chegou a voltar. Os confrontos entre liberais e absolutistas
mergulharam o país numa frágil estabilidade e, em 1833, a
construção paralisou por completo, para
não mais ser retomada nos moldes projectados.
Após a vitória
liberal, D. Pedro assumiu o Governo como regente, na menoridade da
filha, D. Maria da Glória, e jurou a Carta Constitucional na Sala do
Trono do Paço da Ajuda, em 1834.
Ao longo do reinado de D. Maria
II (1819-1853) e do curto reinado de D. Pedro V (1837-1861), que
fixaram residência nas Necessidades, o Paço da Ajuda assumiu um
plano secundário.
Com
D. Luis o palácio ganha nova vida
Foi
com a subida ao trono de D. Luís I (1838-1889), que uma nova etapa
se iniciou, adquirindo finalmente a verdadeira dimensão de paço
real ao ser escolhido para residência oficial da corte. A partir de
1861 foram feitas obras indispensáveis na estrutura do edifício
para acolher o novo monarca.
As
verdadeiras alterações na decoração dos interiores começaram em
1862, ano do casamento do rei com a princesa de Sabóia, D. Maria Pia
(1847-1911). Foi então iniciado um longo trabalho de reformulação
que se estendeu a diversos níveis: das paredes aos tectos –
forrados, estucados ou pintados de novo –, ao revestimento dos
soalhos com parquets e alcatifas, à escolha do mobiliário para as
salas. Tudo encomendado a casas especializadas, portuguesas ou
estrangeiras, fornecedoras da Casa Real. Os presentes de casamento e
bens trazidos de Itália pela rainha ajudaram á decoração dos
apartamentos remodelados.
Nova
disposição e decoração das salas
A nova disposição e
decoração das salas, entregues ao arquitecto Joaquim Possidónio
Narciso da Silva, acompanhou os então recentes padrões de conforto,
privacidade e higiene, característicos da mentalidade burguesa do
século XIX. Os espaços queriam-se agora mais íntimos e
resguardados. Introduziram-se novas dependências no piso térreo: a
Sala de Jantar, para as refeições diárias da família, uma sala de
estar – a Sala Azul – e zonas de lazer, de que são exemplo a
Sala de Mármore e a de Bilhar; por fim, as casas de banho dotadas de
água corrente, quente e fria. O andar nobre fora reservado para as
recepções de gala e o piso térreo, a partir da Sala de Música e
ao longo da fachada poente, destinado aos aposentos privados. O
Palácio foi-se tornando palco das reuniões do conselho de Estado,
dos dias de grande gala – os banquetes e as recepções oficiais –
e do quotidiano familiar: aqui nasceram os príncipes D. Carlos
(1863-1908) e D. Afonso (1865-1920).
Após
a morte de D. Luís I, em 1889, a vida agitada do Palácio da Ajuda
alterou-se profundamente. No novo reinado, a Corte dividira-se entre
três Paços: a Ajuda, onde D. Maria Pia permaneceu com D. Afonso;
Belém – onde nasceram os príncipes D. Luís Filipe (1887-1908) e
D. Manuel (1889-1932) – e as Necessidades, residências
alternativas de D. Carlos I e D. Amélia (1865-1951). O andar nobre
da Ajuda manteve-se reservado para a realização de cerimónias
oficiais.
Instauração
da República e o Palácio hoje
Em 1910, quando da instauração da República e consequente exílio da Família Real, o Palácio foi encerrado. Depois de um período de visitas com acesso restrito, de 1940 até 1968, realizadas apenas a quem obitvesse um “cartão de autorização para visita ao Palácio Nacional da Ajuda”, emitido pela Direcção Geral da Fazenda Pública, abriu ao público em 20 de Agosto de 1968, deixando entrever ambientes e colecções de uma Casa Real de finais do século XIX.
Em 1910, quando da instauração da República e consequente exílio da Família Real, o Palácio foi encerrado. Depois de um período de visitas com acesso restrito, de 1940 até 1968, realizadas apenas a quem obitvesse um “cartão de autorização para visita ao Palácio Nacional da Ajuda”, emitido pela Direcção Geral da Fazenda Pública, abriu ao público em 20 de Agosto de 1968, deixando entrever ambientes e colecções de uma Casa Real de finais do século XIX.
Desde 1996, procede-se à reconstituição, tão aproximada quanto possível, desta residência real, e várias salas foram restauradas com base em rigorosa investigação histórica.
Em 2007, o Palácio, juntamente com os outros palácios nacionais passou a integrar o conjunto de imóveis tutelados pelo Instituto dos Museus e da Conservação.
Além de constituir uma das mais importantes instituições musíais de Artes Decorativas do país, o Palácio Nacional da Ajuda é, ainda hoje, cenário das cerimónias protocolares de representação de Estado.
Fotos: Ana Castro-Corrales (Maio 2019)
Fonte histórica: Pagina web do Museu Nacional da Ajuda.