No século XVII
alguns filósofos afirmavam que a razão, e não a autoridade, seria
a única fonte do conhecimento. Mas foi no século XVIII que o
absolutismo e o poder da igreja começaram a ser de fato
questionados.
A
ideia de que a razão seria a fonte da autoridade e da legitimidade,
os pensadores iluministas acrescentaram os ideais de liberdade,
progresso, fraternidade, tolerancia, laicidade e governo
constitucional. Essas noções se opunham `a
doutrina dogmática da igreja, como a
infalibilidade do papa.
Na capital francesa,
a nobreza estabeleceu contato com uma classe média composta de
comerciantes, banqueiros e homens de negócios que, por nascimento,
não pertenciam `a nobreza. Mas,
graças `a riqueza
que possuíam, tinham condições de apadrinhar artistas habilidosos,
o que les dava prestígio para serem aceitos pela nobreza.
A arte que a
burguesia francesa passou a apreciar e financiar caracterizou-se como
uma reação ao barroco suntuoso e solene de Luis XIV e foi
denominada Rococó. Para alguns historiadores da arte, o Rococó
consiste em uma fase do Barroco compreendida entre 1710 e 1780 em que
os elementos decorativos foram valorizados tanto pelos artistas como
pelos apreciadores da arte. De fato, pode-se ver no Rococó un
desenvolvimento natural do Barroco porém, há características
distintas entre esses estilos.
No Rococó, as cores
fortes da pintura barroca foram substituídas por cores suaves e de
tom pastel, como o verde-claro e o cor-de-rosa. O excesso de linhas
retorcidas e o desequilibrio das formas, que expressavam as fortes
emoções humanas foram substituídos por formas mais leves e
delicadas.
O Rococó refletia,
portanto, os valores de uma aristocracia afeita `as
artes e ao luxo. Os assuntos explorados pelos artistas eram,
predominantemente, cenas graciosas, realizadas de tal forma que
refletissem uma sensualidade sutil, como se pode observar na tela “O
Balanço”, de
Jean-Honoré Fragonard (1732-1806), que
compõe a Coleção Wallace em Londres, Inglaterra.
O Balanço, 1768, Wallace collection, Londres.
Fragonard (1732 - 1806) foi tão dotado com talento natural e independência de e espírito que pôde desafiar as convenções e imprimir a sua marca no caminho que escolheu. Nasceu em Grasse, no Sul da França, filho de um fabricante de luvas, mas a família mudou-se para Paris quando ele contava com seis anos.
Poderia ter se convertido em um pintor académico coroado de êxito, mas o ensino oficial e as maravilhas da antiguidade o enfastiavam. Aos 35 anos resolveu trabalhar como artista independente e passou a pintar para negociantes de arte e colecionadores ricos que pretendiam obras de temas íntimos para os seus salões e toucadores. Alcançou enorme sucesso artístico e financeiro com seus quadros de cenas deliciosas e delicadas de galanteria e frivolidade que encarnavam o espírito da época rococó.
A encantadora pintura "O Balanço" constitui um exemplo privilegiado da obra de Fragonard como artista independente. O tema é tipicamente malicioso e erótico: uma linda mulher atira com um sapato em descarado abandono, enquanto o amante a espreita escondido nos arbustos abaixo dela.
O quadro foi encomendado pelo devasso Barão de St. Julien. De inicio ele confiara a encomenda a Doyen, pintor de temas históricos. Ao expor o que pretendia, o barão disse: "Gostaria que pintasse a senhora (sua amante) sentada em um balanço, empurrada por um bispo". Escandalizado com o pedido Doyen recusou a encomenda e sugeriu ao Barão que Fragonard seria a pessoa indicada para atende-lo. O pintor aceitou a encomenda com júbilo, mas ao pintar substituiu o bispo pelo marido da rapariga.
Nesta ocasião a alta sociedade francesa abundava em intrigas e em ligações extraconjugais. Madame de Pompadour, amante do rei Luis XV era uma das mais influentes figuras politicas do país, com uma posição oficial na Corte. No reinado de Luis XV prosperaram as artes e os ofícios. A extravagancia artística e o abandono dos negócios do Estado desembocaram na sangrenta Revolução Francesa (1789) e as novas tendencias neoclássicas mudaram o mundo onde havia brilhado Fragonard que morreu pobre, ignorado e fora de moda.
Fragonard é hoje mais conhecido pelos seus temas brandamente eróticos, mas também se salientou como grande retratista. A posteridade o reconhece também pelas excelentes pinturas religiosas.